Pablo Alves é paraense. Descobriu-se na escrita ainda muito moço e nela achou um lugar onde externar muitos de seus conflitos. Tenta, atualmente, concluir o Ensino Médio e depois cursar a faculdade de Letras.
tenho olhos que
assim como peixes
presos num aquário
ainda sonham
inocentemente
encontrar o mar
onde moro
a luz ondula por entre
a palha de uma palmeira
até rolar iridescente
para dentro do quarto
através de uma ferida
no teto, toda manhã.
tem vez que goteja
depois a chuva passa
e já não sobra muito
sob a pele de papel.
quando o sol se vai no
fim do dia, ainda quero
estar aceso
conheço um lugar
onde todo poema nasce,
naufraga e se quebra;
visito-o sempre
nos olhos de minha irmã
no seu oceano negro
preso à retina.
parte de mim
ainda não ouviu
a mãe chamar
para dentro
de casa
ainda está lá
brincando na rua
no meio da poeira
ainda é tão livre
quanto um verso
de Bandeira
com você
sinto trovões
no fundo
do estômago
hoje, o cheiro da manhã
caiu por entre as persianas
rolou cada metro quadrado
do pequeno quarto no apê
me poliu o rosto e se fincou
encrostou-se ao corpo
deixando vestígios
nisto tudo que me arde;
creio que eu seja, agora,
somente parte de mim
o outro resto é manhã
que ainda virá mais tarde
às vezes tão à deriva
que balanço na ponta
do pequeno maremoto
que há dentro de mim
mergulhar em
seus olhos acesos
é queimar em meio
ao mar bravio
Foto de Luísa Machado.